sexta-feira, janeiro 09, 2009

O Culto do Chá

O Culto do Chá é um relato extraordinário de um português, Wenceslau de Moraes, nascido em Lisboa no longínquo ano de 1854, e que escreve este mesmo livro em 1905, depois de ter trocado o país natal pelo Japão, onde viveu durante 30 anos. Homem atento aos costumes locais, descreve com mestria e alguma poesia, neste livro, as origens remotas da arte de beber chá no País do Sol Nascente.
Numa época em que é cada vez mais importante voltar a apreciar e valorizar as coisas simples da vida, aqui fica uma sugestão de leitura que será decerto um deleite para aqueles que não passam sem uma boa chávena - ou taça - de chá. Relembro que este livro foi escrito em 1905 e mantém uma actualidade surpreendente. E para terem uma ideia do que estou a falar, deixo-vos com algumas linhas do mesmo.

"É no Oriente, e em especial no Extremo-Oriente, que as coisas comuns da criação ou os usos e costumes triviais da vida são susceptíveis de merecer um tal requinte de solenidade sentimental e de praxes de rito, que constituam um verdadeiro culto. No espírito do europeu, despoetizado pela chateza dos ideais da época, atribulado pelas multíplices exigências da vida, pervertido pela febre do negócio, não medram de há muito os cultos. Especializando a observação ao chá, havemos de convir que este artigo de comércio, que de tão longe nos vem, propositadamente adulterado conforme o nosso gosto, no fim de contas se resume numa detestável infusão que entrou em moda no sport social, simples pretexto para respastos pelintras, para reuniões banais, para palestras vãs.

A Ásia é outra coisa: a muitos propósitos imersa ainda em barbarismo, se assim se quer dizer; com mil defeitos e mil erros, que a sábia Europa aponta a dedo e algumas vezes corrige, quando pode, com a lógica dos seus canhões de tiro rápido; o que ela retém ainda, indiscutivelmente, esta Ásia, é o carácter ancestral, nada vulgar, nada rasteiro, palpitante de orgulhos de raça, aprazendo-se em sonhos e em quimeras, acariciando a lenda, divinizando as coisas, prodigalizando os cultos; o que é, em todo o caso, uma maneira amável de ir compreendendo a vida. "


Padrões Culturais Editora
ISBN - 978-972-8721-81-7

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